–
Papai, eu quero aprender
Uma
arte que renda bem,
Porque
sempre ouvi dizer
Na
terra é grande o que tem...
–
Queres tu ser alfaiate?
Aqui
está um tesourão...
–
Para que nós eu desate?...
Ai,
papai, não quero, não!
–
Queres tu ser sapateiro?
Dize
lá meu maganão...
–
Eu, lamber o ano inteiro?
Ai,
papai, não quero, não!
–
Se queres ser ferreiro
Deves
cuidar no carvão...
–
Eu, queimar-me no braseiro?
Oh,
papai, não quero, não!
–
E ourives?... É um tesouro
Que
a gente tem sempre à mão...
–
Eu, vender latão por ouro?
Eh!
papai, não quero, não!
–
Se quiseres - taboleta,
Mandes
fazer o balcão...
–
Para ver-freguês-capeta?
Ui,
papai, não quero, não!
– Se quiseres comprar gado...
É
negócio de ricão!
–
Escutar, ouvir boiado?...
Ai,
papai, não quero, não!
–
Então cuides do celeiro
E
dos produtos do chão...
–
Eu, lidar com o jornaleiro?
Ui,
papai, não quero, não!
–
Então sejas - intendente,
E
cuides na votação...
–
P´ra a inveja me ter no dente?...
Ui,
papai, não quero, não!
–
Pois ao Governo do Estado,
Peças
emprego, Simão.
–
Para ficar no fiado?...
Eh!
papai, não quero, não!
–
Queres tu ser arquiteto?...
Responde...
que tal? Então?...
–
Para andar de tecto em tecto?
Ai,
papai, não quero, não!
–
E Juiz de beca ao peito
Com
ares de sabichão?...
–
Para ser torto em direito?!
Oh,
papai, não quero, não!
–
E engenheiro?... É coisa lisa
Pôr
a agulha em direção.
–
Para bater a baliza?...
Ah,
papai, não quero, não!
–
E esculápio, tu que pensas?...
Podes
cobrar dinheirão...
–
Para lutar com doenças?
Ai,
papai, não quero, não!
–
Enfim, se entrares com jeito
No
Tesouro da Nação...
–
Este sim, papai, aceito!
Pois
no Brasil o ladrão
Traz
as medalhas no peito
E
a República - na mão!
(Maneca Grosso)
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