segunda-feira, 16 de maio de 2016

Meio de Vida de Simão





– Papai, eu quero aprender
Uma arte que renda bem,
Porque sempre ouvi dizer
Na terra é grande o que tem...

– Queres tu ser alfaiate?
Aqui está um tesourão...
– Para que nós eu desate?...
Ai, papai, não quero, não!

– Queres tu ser sapateiro?
Dize lá meu maganão...
– Eu, lamber o ano inteiro?
Ai, papai, não quero, não!

– Se queres ser ferreiro
Deves cuidar no carvão...
– Eu, queimar-me no braseiro?
Oh, papai, não quero, não!

– E ourives?... É um tesouro
Que a gente tem sempre à mão...
– Eu, vender latão por ouro?
Eh! papai, não quero, não!

– Se quiseres - taboleta,
Mandes fazer o balcão...
– Para ver-freguês-capeta?
Ui, papai, não quero, não!

 – Se quiseres comprar gado...
É negócio de ricão!
– Escutar, ouvir boiado?...
Ai, papai, não quero, não!

– Então cuides do celeiro
E dos produtos do chão...
– Eu, lidar com o jornaleiro?
Ui, papai, não quero, não!
– Então sejas - intendente,
E cuides na votação...
– P´ra  a inveja me ter no dente?...
Ui, papai, não quero, não!

– Pois ao Governo do Estado,
Peças emprego, Simão.
– Para ficar no fiado?...
Eh! papai, não quero, não!

– Queres tu ser arquiteto?...
Responde... que tal? Então?...
– Para andar de tecto em tecto?
Ai, papai, não quero, não!

– E Juiz de beca ao peito
Com ares de sabichão?...
– Para ser torto em direito?!
Oh, papai, não quero, não!

– E engenheiro?... É coisa lisa
Pôr a agulha em direção.
– Para bater a baliza?...
Ah, papai, não quero, não!

– E esculápio, tu que pensas?...
Podes cobrar dinheirão...
– Para lutar com doenças?
Ai, papai, não quero, não!

– Enfim, se entrares com jeito
No Tesouro da Nação...
– Este sim, papai, aceito!
Pois no Brasil o ladrão
Traz as medalhas no peito
E a República - na mão!

(Maneca Grosso)


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